quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Sem nenhuma moradia

- Entra.
- Não tem ninguém ocupando o lugar que era destinado a minha pessoa? 
- Não, me enganei.
- Não era ele ou o outros que eram os homens do muro alaranjado? 
- Entende que não? 
- Esse homem lhe persegue. 
- E você o que veio aqui fazer? 
- Não percebeu? 
- Pisotear em cima do meu fracasso? 
- Cansei de ficar sozinho. 
- De verdade? 
- Sim.

- Já te cansastes de viver na rua? 
- Posso entrar? Meus sonhos chegaram ao fim, como tudo, como eu vou chegar.

- Porra, eu passei milhares de algumas boas horas triste por você ter fechado aquela porta, a nossa porta. 
- Ainda tenho lugar na sala.
- Podes ter certeza que o seu lugar na minha mesa ainda continua intacto, esperei muito a sua volta, sabia que voltarias, mesmo demorando meses, anos, séculos, você voltaria. 
- De verdade sabes que não pensou assim.
- Você é uma criança prodiga que volta aqui pra teu acalanto, e sabes que não terá mais o meu carinho e nem por menos meu acalanto, você não mora mais aqui, seu corpo mora, alma não.
- Me fala de coração isso? 
- Podes ocupar meu teto. Podes comer meu pão. 
- E o seu coração? 
- E o meu coração somente depois de pintar o muro. 
- Qual cor? 
- Você é homem? 
- Homem do muro alaranjado. 

- Do meu muro... 

Cadeira Vazia

Há no meu peito uma cadeira, talvez uma cadeira que se transforme em cama, daquelas bem largas. Essa cadeira permanece vazia, talvez assim sempre tivera, é necessária ocupa-la de alguma forma, com alguma forma. A sua forma. Você que eu ainda não conheço, que eu ainda não tenho certeza se já encontrei. Posso ter caminhado ou corrido a sua lateral sem ao menos olhar a sua forma. Devo de alguma foma em algum lugar do mundo parado ao seu lado esperando o sinal fechar pros carros e ônibus e aberto pra eu continuar a vida. Vem continuar a vida comigo, mesmo eu nem sabendo se você é ele ou senhora ou ainda uma dama da corte inglesa, quero enfeitar a beleza que tem a sua própria forma. A minha cadeira lhe espera.

domingo, 13 de outubro de 2013

Madalena o meu peito lhe percebeu.

Madalena, uma grande menina, nunca vi, tanto fala, tanto anda, tanto ama, e nunca sofre, fico angustiado querendo saber qual é o segredo que ela tanto esconde para seu não-sofrer. Eu que já consultei astros, ciganas, mandingas, mães de santo, candomblé, cartas e nada e ninguém resolveu o meu problema. Vou sequestrar Madalena para aprender tal preceito, não ando sustentando as colunas que me erguem. Ela faz mágica pra não chorar e dor não sente, ódio não vê e não lhe toca, o que acontece com Madalena? Será que não vive. Aparenta não ser real, ser desenho, ser pintura, ser arte pura, o que antecede Madalena? Aparenta surgir ao nada. Não vem com odores ruins, não leva a preguiça, não tem sangue quente. Sempre calma, doce e veloz. O que é Madalena? Miragem, invenção? Me ensina a ter o seu dom, não aguento levar surras e ter que continuar a sorrir sem ao menos chorar. Madalena somente ela consegue essa proeza. De onde vem, que segredo guarda? Não é natural viver como ela. Tem sempre um sorriso e uma palavra amiga, será que é um anjo? Ou um demônio? O meu peito tão massacrado não consegue se restituir. Madalena o faz, sem muito esforço, ela não caí, não se machuca. Será Madalena imortal? Será Madalena um ser irreal? Sua mãe partiria, Madalena que era sozinha, padeceu o necessário, logo se refez. Órfã, não casada, não mãe, não pai, não tia. Nenhuma amiga. Sem irmãos. Madalena sofre sozinha no quarto? Na noite ela chora? Dizem que não. Não tem homem. Comparado ao pranto meu, Madalena, você é Deus. Você é Deus? Alá. Ela é uma deusa enraizada na antiga tribo filipina das moças virgens fortes? Madalena logo o sol vai se desesperar se você não se desesperar. Acorda. Não dorme? Vou me esconder atrás da serra, não sou Madalena.

domingo, 6 de outubro de 2013

Quem o coração abrigou..

Vem de você, 
não consigo externar sem a tua imagem a puxar, 
a invocar. 

Você tem mostrado bastante de mim 
e de tudo que é 
amarrado a mim.

E só escrevendo é 
que eu sei dizer o 
quando esse bem tem 
me feito bem.

Tem que ser você, 
não importa que digam, 
tem que ser
 clichê 
e ser 
feito.

Eu 
medito
boa energia 
e você 
nem nota.

Não. 
Não diga 
não, 

dê meu beijo de saudade, 

que molha a boca
 e 
seca a alma. 

domingo, 14 de julho de 2013

I - E João por onde foi?

João sentiu que alguém sentia sua falta em algum lugar, não sabia dizer que e pouco menos onde, decidiu sair pra procurar, agarrou o casaco que lhe cobria de frio, arrumou a velha mala com livros de poesias para recitar para o amor que lhe espera em alguma parte do mundo, pegou a antiga mochila e colocou as únicas coisas que lhe acalmava e colocou dentro o cigarro, seu amigo de angústias, os óculos escuros, a blusa vermelha do Ernesto que ganhará de presente, o isqueiro preto, colocou as botinas no pé, não sabia o que encontraria pela frente, acariciou o cachorro, abraçou o gato, alimentou e amou cada um deles como se fosse a última vez que iria vê-los, colocou telefones importante na agenda negra com coral, apanhou lápis, alguns cds, um rádio de bolso, alguns chapéus e se enfio na calça jeans rasgada, agarrou o violão, catou alguns trocados, saiu, sem dar tchau e entrou na estrada sem avisar e cumprimentar quem passava, sabia que algo lhe esperava, não sabia onde, mas acharia, não sabia como. Passou por viadutos, mortes, carros, amores, declarações de paixão súbita, amou alguns pelo meio do caminho, sem nunca perder o foco e o desejo de encontrar tudo, não sabia onde onde o mundo terminava ou onde começava, alçou voos, cumprimentou passageiras negras de forma única, beijos quentes colecionava, guardou algumas bebidas exóticas, alguns abraços fraternos, ouviu boas músicas, sem nunca deixar de procurar e sem esmaecer, não pensou em voltar para seu acalanto momento algum, não sabia onde parar e nem se pararia, queria encontrar um farol de amor, numa ilha chamada coração, no continente conhecido como pessoa, e continuava... continuava... continuava.. sempre continuava... Sentiu saudades do cheiro das pessoas que o cercavam em seu abrigo, lembrou que trouxe uma peça de vestimenta de cada uma delas, matou a vontade de voltar... Será que volto? Um dia se indagou, será que alguém me espera mesmo? Será que devo continuar, as árvores a bater com o vento só lhe traziam falsas conclusões, falsas esperanças, mas a roseira que aguentava o frio, a noite, o vento respondia que sim, que alguém lhe esperava, colocou novamente a mochila nas costas, a maleta na mão e continuou, avante, nobre caçador de paixão...

Será que existe mesmo um farol a esperar você, João?

terça-feira, 4 de junho de 2013

Até o sol nascer.

Estranho é gostar tanto do seu sorriso sem que não sinta culpa de nada do mundo, estranho é esquecer um pouco, só um pouquinho, do mundo quando não estou nos seus braços, por que envoltos neles estou protegido, como já te disse um zilhão de vezes, me protegem, mas tenho um certo temor deles ficarem protetores demais e sugarem todo o medo que sinto da bolha azul. Temos que sentir um pouco de receio do mundo pra deixar essa vida cinza, um pouco colorida, um tiquinho de adrenalina é melhor. Senão eu prefiro chorar com a certeza que esse paixão me engoliu tanto que tive que pular fora do barco, está cansativo demais remar. Esses receios parecem não estar sendo ruim. Eu não quero deixar esse barco, mas se eu não estiver com vontade de remar, não dá pra continuar. Em momento nenhum estou querendo lhe dizer que vou pular fora, pelo contrário, eu quero continuar, estou vendo o sol no horizonte, quero sentar naquela ilha logo ali, tá vendo? Não? Então verá quando cruzarmos aquela pequena linha horizontal que chamam as boas almas de horizonte do nascer do amor. Rememos juntos, façamos juntos, para que assim não tenhamos problema com a curva que iremos tomar. Iremos longe, se a onda não engolir nosso barco, se ainda ela engolir, tenho que te ensinar como desvira o barco no alto mar, não é mesmo? Quando embarcamos? Ás nove do nascer do sol no porto, te aguardo de braços estendidos?

domingo, 26 de maio de 2013

Praia, fumaça e aquelas nuvens gordas...

Fuga da realidade sombria, conhecer um pouco do mundo que você guarda as escondidas, no mais profundo baú de boas maneiras, um mundo onde as barreiras perigosas só desaparecem, começa a sugir, re-surgir, um quê colorido, em tons de púrpura amarelado, no meio da multidão de pessoas cinzentas e vazias, você parece estar cercado de boas vibrações, emanações, cheiro e sentido, as coisas parecer estar no momento certo de acontecimento, de re-ressurreição. A vida parece estar dando certo. Pela última ou pelo menos uma vez ou umas vezes. Vale a pena.Sinto cheiros de bons tempos.