quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O meu amor me chamou...

Não é nada. 
Minha pequena.
 Canso de lhe dizer que o que 
me importa é você. 

Não tenho nada. 
Só não vou mais descer, 
nada lá embaixo me atrai. 

Nadinha. 
Eu prefiro ficar da janela.
Vendo a banda passar. 
Em outras palavras, 
não me sinto bem na felicidade.

Vendo a banda passar. 
Cantando coisas de amor.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

"Passeata dos Cem mil."

Subúrbio do Rio de Janeiro. Ano de censura. O país nas mãos dos tiranos, a arte sendo massacrado a cada momento mais. Nas ruas só se passavam sombras, o ar da clandestinidade pairava saber o belo sol da praia de Ipanema. Verão de 68, alto poder da ditadura militar, os ingleses comandando o país, nas ruas não se vê uma pessoa sem farda camuflada, por entre as vielas grupos de revolucionários se formam, se reforçam. Redações de jornais invadidas, matérias e jornalistas sendo apagados e nunca mais saboreando a vida. Teatros, cinemas, centros culturais ou qualquer coisa do gênero sendo proibida a entrada. Cantores, atores, artistas no modo geral de pensar lutando - camufladamente - contra uma politica de dor e tortura. Nas bases militares, nos porões do DEOPS coisas acontecem. Informações são extraídas da pior forma possível. Choques, mutilações, violências sexuais e pancadaria acontecem sem ao menos ninguém saber. Os estudantes caem em si, lutam, enfrentam.  "Avenida Rio Branco é totalmente fechada por estudantes pedindo paz. Tempos de paz." Sequestros, roubos a bancos e falsidades ideológicas são as armas da parte revolucionaria do país. Livros, músicas, poemas, poesias e matérias de jornal são enviados para verificação da censura. Negado. Muitas vezes obras negadas. População alienada pela grande rede televisiva. Alerta. Exílio para artistas e pensantes que viviam na clandestinidade, agora são obrigados a terem que deixar a sua nação. Caminho livre para a ditadura. O país, a massa se reprova contra o governo.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Abandidado, Cazuza.


''Difícil juntar as coisas, nessa estranha síntese de Janis Joplin e Dalva de Oliveira: um garotão agitado, bonito, sexualidade gauche, berrado poemas de sabor beat, loucamente temperados por pitadas de Lupicínio Rodrigues, Mick Jagger, Rimabud, Jim Morrison e muito mais. Como é que pode? Eu ouvindo cada vez mais alto Exagerado ou Só as mães são felizes, vizinhos putos e na minha cabeça, rolando todas. Quem seria esse poeta com as letras mais poderosas da atual música brasileira? Quem seria esse roqueiro juvenil e profundo, lírico e maldito, chique e marginal, explodindo as fronteiras do bom-gosto estabelecido, às vezes insuportavelmente lúcido? Eu estava intrigado: a beira da paixão. Como com Ângela Roro, Billie Holiday, Lou Reed.Ele existe, vocês sabem. Chama-se Cazuza, 27 anos de Áries com Sagitário, logo suavizado pela Lua em Libra. Carioquésimo. De beira de praia. Ipanema. Filho único bem mimado de pai produtor da Philips. Elis Regina pegava ele no colo, ele espiava escondido os papos do pai com figuras como Tarso de Castro ou o lendário Roniquito (irmão de Scarlet Moon). Curtia os mais velhos: ele é mais velho que sua geração. Dublava suas coleções de discos de rock subindo em cima das mesas, a vassoura fingindo de microfone. Menino exagerado, imitava os graves de Maria Bethânia. Estudou 10 anos num colégio de padres, na quarta série ginasial foi expulso: mau-elemento, lógico. O pai prometeu um carro se ele passasse no vestibular. Passou, ganhou o carro e ficou só uma semana na faculdade. Comunicações. Cazuza escrevia uns baratos, queria ser jornalista. Ou fotógrafo, ou qualquer coisa. Mil cursos: medo de encarar a vocação maldita. Ou bendita? Bem, depende.Um dia não fugiu mais, começou com uma fase super-hiponga, quando foi o que ele chama de “cantor de fogueira”. Juntava bicho, um pessoal em Mauá, Porto Seguro, Trancoso, aquelas coisas, em volta de uma fogueirinha. Pintava uma flauta, uma viola, e lá vinha Cazuza com sua voz rouca de Hollywood’s e conhaques desfilando um vastíssimo repertório. Rocks, tangos, blues, bolerões e o que mais rolasse. Certos traumas: “Me barraram no coral do colégio. Fiz teste com a mulher do piano e não passei.” Veio uma peça teatral, verão de 80-81: Paraquedas do Coração, montado no Circo do Arpoador. Cazuza era um pouco ator, e cantava. No elenco tinha um moço chamado Léo Jaime que falou assim: “Ô cara, conheço um grupo de rock lá do Rio Comprido que tá querendo um vocalista. Vai lá.” Cazuza foi. Os caras queriam uma garota cantando, mas o som super-heavy deu certo com Cazuza: era o Barão Vermelho. “E o resto?” ele diz “Ah, o resto é História.” Ou seria história? Dois LPs, a explosão de Bete Balanço, a paixão confessa de Caetano, Gil, Bruna Lombardi e todos nós. Cazuza agora, você sabe, é solo.
Surpresa: ele adora Clarice Lispector. Tem Água Viva há anos na cabeceira, chegou a fazer uma música que nunca gravou. Paixão por Nelson Rodrigues. “Me comove tanto a piedade que ele tem pelo ser humanos.” Piedade; palavra chave na obra de Cazuza que dói, lanha e sangra. Lê mil jornais por dia, atento ao horror solto por aí na Nova Idade Média. Foi de uma notícia sobre um bando de adolescentes que violava cadáveres num cemitério do interior de Minas que tirou um verso da proibida (e genial) Só as mães… Barra pesada. Cazuza é proibido. Dark demais? Ou porque fala do real ali da esquina e cá de dentro? Val Improviso, necrofilia. E rosas roubadas. Tem uma coisa nele crescendo, em direção à outra luz. “Tô me vendo mais social, mais preocupado com o coletivo, saindo daquela coisa reduzida de mesa de bar e dor de corno.“ Cazuza é cândido, gentil e abandidado. Tem insônia, fica fazendo fantasias. A mais frequente: “Que tenho uma porção de irmãos e todos dormem no mesmo quarto, em beliches.” Você sente falta de irmãos, Cazuza? Mas você tem tantos, menino. Um beijo.”

— Texto escrito por Caio Fernando Abreu sobre Cazuza para a revista Around.

domingo, 12 de agosto de 2012

Cintilante como a pluma.


Pensei poder substituir esse sorriso que quando me vê, você abre. Fracassei como sempre. Sempre fracasso, seja no amor, seja na vontade, seja na felicidade, seja nas amizades. O fracasso é meu karma (você ainda acredita nessa coisa de karma, né? Signos e blá blá). E quando eu penso que tentar substituir uma amizade é a maior burrice que uma pessoa possa fazer, lembro do seu olhar me repreendendo junto as minhas escolhas, deveria lhe ouvir mais. Sempre me disse, eu tão pouco acreditei. És a verdade que em fala. É amor, sabedoria, é tudo. Você é tudo que eu tenho e preciso pra ser feliz, não chateie comigo. Eu erro eu sei. Mas, o amor que lhe devoto é tão imenso. Que nem mesmo as flores e os botões teriam como contar o tamanho desse sentimento. Você é amiga. Você é minha felicidade.